Reforma e Segurança Social: quanto recebo e como compensar
Na reforma vais receber menos do que o teu último salário. Descobre neste artigo como estimar a pensão de velhice e fechar o “gap”.
Olá, amadores! 👋
Num domingo à noite, a Marta (31 anos) pergunta-se: “Quando me reformar, quanto é que entra? E o que posso fazer hoje para lá chegar com calma?”. Este artigo segue o caminho da Marta — das contas à ação — para que tu possas replicar, já hoje, no teu caso.
No fim do mês, a Marta (31) recebeu dois lembretes de “vida adulta”: o e-mail da senhoria a avisar que a renda sobe 50€ e o recibo de vencimento com os 11% de desconto para a SS bem visíveis.
No trabalho, os RH perguntaram se alguém queria aderir ao PPR da empresa e uma colega comentou: “eu comecei cedo para não depender só do Estado”. A Marta riu, mas ficou a pensar: e se eu começasse a preparar a “Marta dos 60” agora que ainda tenho tempo?
Nos dias seguintes, a coisa ganhou forma:
Apareceu a notícia de que a idade legal da reforma vai para 66 anos e 9 meses em 2026 [3].
No jantar de domingo, o avô repetiu que “a pensão não dá para tudo” — e ela lembrou-se daquele fact-check que dizia que a maioria das pensões fica abaixo do salário mínimo [7].
Depois viu a projeção europeia: a pensão pública da nossa geração pode valer perto de um terço do último salário [8].
“Se eu chegar a 1 600€ brutos e a SS cobrir só 40–50%, quem paga o resto?”, pensou.
🥕 A Marte decidiu agir hoje! E tu, podes fazer o mesmo com ela!
Como se calcula a tua pensão (e como a Marta fez)
A Marta abre o simulador da Segurança Social e encontra duas ideias-chave:
Pensão = Remuneração de Referência (RR) × Taxa Global de Formação.
RR (Remuneração de Referência) é, na prática, a média revalorizada dos salários da carreira e calcula-se por RR = TR ÷ (n × 14).
TR (Total de Remunerações revalorizadas) = soma de todas as remunerações anuais da carreira atualizadas por coeficientes oficiais.
n = número de anos com descontos registados (contam até 40).
“14” porque a fórmula usa o equivalente a 14 meses/ano (12 meses + subsídios) [1][10].
Para ter direito à pensão de velhice precisas de mínimo 15 anos de descontos; contam no máximo 40 para o cálculo [1].
Reforma antecipada: corte de –0,5% por cada mês antes da idade normal + Fator de Sustentabilidade (em 2025 é –16,93%) [4][5].
Reforma adiada: Se te reformares mais tarde tens uma bonificação de entre 0,33% a 1% por mês adicional, conforme a carreira [6].
Idade legal: 66 anos e 7 meses em 2025; em 2026 passa para 66 anos e 9 meses e essa idade provávelmente vai continuar a aumentar ao longo dos anos [2][3].
A Marta com números (de hoje):
Simulador corrido, a RR dela fica perto de 1 300€ (vs. salário bruto). Com 35 anos de descontos previstos e taxa anual média ~2,2%, a taxa global aproxima-se de 77% → pensão-base de ~1 001€ brutos (sem cortes/bonificações).Faz o mesmo agora: entra no simulador da Segurança Social, corre a simulação automática com os teus salários e guarda o PDF (a tua base) [9].
O risco de sustentabilidade (o que é realista esperar)
A Marta lê sobre demografia: mais idosos por cada 100 ativos põem pressão no sistema “de repartição” da Segurança Social - i.e. Os trabalhadores de hoje financiam os pensionistas de hoje.
Para equilibrar essa pressão, a idade legal de reforma sobe (Exemplo: de 66 anos e 7m em 2025 para 66 anos e 9 meses em 2026) e as penalizações na antecipação da reforma mantêm-se relevantes [2][3][5].
O dado que muda o chip: a Comissão Europeia projeta que a taxa de substituição (pensão inicial como % do último salário) desça de ~69% (2022) para ~38,5% em 2050, se nada mudar — de ~2/3 para ~1/3 do último ordenado [8]. Hoje já é apertado: 74% das pensões de velhice estão abaixo do salário mínimo [7].
Como a Marta transforma isto em planeamento:
Último salário projetado: 1 600€ brutos.
Ela assume cenários para a novos pressupostos sobre a pensão que receberá:
• Conservador 40% → ~640€
• Central 45–50% → ~720–800€
• Otimista 60% → ~960€A decide usar 45% como dado (720€) e encarar o resto (280€ = 1001€ - 720€) como “gap” a fechar com poupança/investimento ou custos mais leves.
De uma forma prática, para ti:
Tens menos de 40 anos? Planeia 35–45% da SS (alinha com os ~38,5% projetados para meados do século) [8].
Carreira estável até à idade legal? 40–50%.
Perto da reforma e carreira longa? 55–65% (cenário otimista; tendência geral é descer) [8].
⚠️ Disclaimer: As decisões que saem deste artigo são tuas. Isto não é aconselhamento. Isto são ideias de como eu penso e dados que encontro, que podem ajudar-te a pensar e a ter melhor dados para tomares uma decisão tua.
Agora, a pergunta é: como é que vais compensar o gap de rendimento que podes não ver no futuro, por causa dos desafios de sustentabilidade da Segurança Social.
O plano para compensar a diferença
Passo 1) A Marta escolhe um objetivo simples: receber ~70% do último salário na reforma.
Se a SS cobrir 45%, falta 25% - que por contas é:
1 600€ = último salário
1 120€/mês = 70% * último salário
45% = Cobertura da SS
720€ = Valor previsto receber da SS
400€/mês = Gap entre 1120€ e 720€
Passo 2) A Marta define quanto capital é preciso poupar:
Regra de bolso — a regra dos 4%:
Capital a poupar ≈ Gap Anual (400*12) ÷ 0,04.
Para o Gap de 400€/mês, é necessário poupar cerca de ~120 000€ acumulados.
Para lá chegar sem stress, a Marta divide pelo tempo:
Se poupar 35 anos a 5% por ano → ~106€/mês podem gerar ~400€/mês de complemento na reforma.
Se tiver 30 anos → ~144€/mês.
… agora, é preciso escolher opções para alcançar esse rendimento extra 👇
Como aumento rendimento (hoje e na reforma)
Durante a vida ativa (para acumular capital que vira renda):
PPR (Plano Poupança Reforma) como coluna vertebral — dedução de 20% das entregas com tetos por idade (400€/350€/300€) e tributação mais favorável à saída dentro das condições. A Marta agenda 150€/mês.
ETF (Exchange-Traded Funds) com DCA (Dollar-Cost Averaging) — a Marta começa com 30€/mês num índice global e sobe sempre que o ordenado subir.
As opções que Marta implementa (para replicares):
Automatiza 10–20% do líquido para a “Conta Reforma” (débito no dia do salário).
PPR (Plano Poupança Reforma) como coluna vertebral
IRS - dedução de 20% das entregas com tetos por idade:
400€ (<35) — se forem investidos 2 000€ em cada ano
350€ (35–50) — se forem investidos 1 750€ em cada ano
300€ (>50) — se forem investidos 1 500€ em cada ano [11][12].
Saída nas condições legais: tributação de ganhos mais favorável do que produtos “normais” [11].
A Marta escolhe um PPR de baixas comissões e agenda 150€/mês.
(Confere as regras no ano em causa.)
Antes, garante o Fundo de Emergência (3–6 meses) para não venderes investimentos à pressa.
ETF / Fundos de índice globais para acelerar rendimentos:
A Marta começa a fazer com 30€ DCA/mês
DCA (Dollar-Cost Averaging) = investimento programado com valor fixo todos os meses — num índice global (como S&P 500 ou MSCI Global) e promete subir sempre que o ordenado subir.
👉 tudo explicado neste artigo que explica como fazer isto na prática.
Side job 100% “Conta Reforma” — um projeto freelance de 150€/mês cobre ~40% do gap da Marta se for contínuo (e capitalizado).
Já a pensar no período de reforma (para gerar rendimento adicional):
Converte parte do capital em renda — transformar uma parte do PPR/portefólio em pagamentos mensais (ex.: resgates periódicos regrados), mantendo outra parte investida para crescer.
Trabalho leve/consultoria 4–8h/semana — usando a tua experiência acumulada: 200–400€/mês típicos podem cobrir metade do gap de muita gente.
Monetizar a casa — arrendar um quarto (≥250–350€ em muitas zonas urbanas) ou estacionamento; se fizer sentido para o teu contexto, é rendimento regular com pouca complexidade.
Opções pomo diminuir custos (preparar hoje para gastar menos amanhã)
Habitação (o maior custo):
Ter o empréstimo pago até à reforma — se a Marta terminar o crédito aos 65, o custo mensal da casa pode baixar de ~900€ de prestação para ~250–300€ (condomínio + IMI + manutenção). Poupança potencial: ~600€/mês. Em muitos casos, só isto quase fecha o gap.
Downsizing planeado — vender a casa grande e comprar uma mais pequena/mais barata (ou mudar de zona). Gera capital extra + custos fixos menores para sempre.
Eficiência energética — isolamento, eletrodomésticos eficientes, eventual autoconsumo. Corte estrutural na fatura que persiste na reforma.
Saúde e seguros:
Planear franquias/coberturas atempadamente para evitar prémios desajustados; negociar anualmente.
Prevenção (consultas, rastreios) reduz surpresas caras — custo baixo hoje, poupança grande amanhã.
Mobilidade e vida diária:
Vender o 2.º carro perto da reforma; passes sénior quando aplicável; otimizar combustíveis/seguro/manutenção.
Assinaturas e “pequenos vazamentos” — cortar TV premium, apps raramente usadas, tarifas de telecoms inflacionadas. Pequenas poupanças compostas fazem diferença.
Alimentação e rotina:
Batch cooking/planeamento reduz desperdício; supermercado com lista e limites.
Negociação anual de energia/seguros/telecoms (agenda fixa no calendário).
Imobiliário com contas frias
Para arrendar: testa juros +2 p.p. (p.p. = pontos percentuais), vacância 2–3 meses/ano, manutenção ~1%/ano, IMI (Imposto Municipal sobre Imóveis) e seguro — a rentabilidade líquida tem de sobreviver a este cenário.
Para habitar: amortizações planeadas baixam juros totais e libertam caixa na reforma.Rendimento extra dedicado à reforma
A Marta aceita um projeto freelance de 150€/mês e canaliza 100% para a Conta Reforma.
👉 Novas fontes de rendimento. Quais? Como começar?
Exemplo de guia de ação (a Marta fez assim)
Hoje (30–60 minutos)
SS Direta → Simuladores → Pensões: corre a simulação automática e guarda o PDF (RR, TR, anos e idade) [9].
Define a tua meta (ex.: 70% do último salário).
Aplica os cenários SS (Conservador/Central/Otimista) e calcula o gap.
Cria a “Conta Reforma” e ativa 10–15% automático.
Esta semana
Escolhe 1 PPR de baixas comissões e agenda reforço mensal alinhado com o teu teto por idade [11][12].
Ativa DCA num ETF global (25–50€/mês para começar).
Corta 1 grande custo (energia/seguros/mobilidade) e agenda revisão anual.
Antes do próximo trimestre
Se ponderas imobiliário, valida a compra com sensibilidades (juros ↑, vacância, manutenção, IMI).
Sobe a tua taxa de poupança +1–2 p.p. sempre que o salário subir.
Conclusão
A Marta não descobriu um “segredo”. Descobriu um processo: a SS é o alicerce, não a casa toda; a percentagem do salário tende a cair; por isso, automatizou poupança, usou PPR, investiu com disciplina e domou custos. Tu consegues o mesmo — começa hoje. 🙌
Trabalho de casa (passos ordenados)
Simular na SS Direta e guardar o PDF baseline.
Define a meta (ex.: 70% do último salário) e estimar a % SS (usa 35–45% conservador, 40–50% central).
Calcula o gap (em €/mês) e o capital-alvo (gap anual ÷ 0,04).
Criar a “Conta Reforma” e ativar 10–15% automático.
Subscrever 1 PPR (baixas comissões) e agendar aporte mensal alinhado com o teto por idade [11][12].
Iniciar DCA num ETF global (25–50€/mês; subir quando o salário subir).
Cortar 1 grande custo esta semana (energia/seguros/mobilidade) e agendar revisão anual.
Disclaimers
Conteúdo educativo; não é aconselhamento financeiro.
Regras (idades, fatores, benefícios) podem mudar; confirma sempre no portal da Segurança Social e/ou com um profissional qualificado.
Fontes / Referências
Segurança Social — Pensão de Velhice (fórmula, requisitos, prazo de garantia, contagem de anos) — seg-social.pt
https://www.seg-social.pt/pensao-de-velhicePortaria n.º 414/2023 (DR) — Idade normal de acesso em 2025: 66 anos e 7 meses — diariodarepublica.pt
https://diariodarepublica.pt/dr/legislacao-consolidada/portaria/2023-840370637CGD (Saldo Positivo) — Reforma antecipada/idade legal; 2026: 66 anos e 9 meses (com referência à Portaria aplicável) — cgd.pt
https://www.cgd.pt/Site/Saldo-Positivo/protecao/Pages/pedir-reforma-antecipada.aspxGEP/MTSSS — Nota Técnica: Fator de Sustentabilidade 2025 = 16,93% (coef. 0,8307) — gep.mtsss.gov.pt
https://www.gep.mtsss.gov.pt/documents/10182/80545/NT_FSeIDR281124.pdf/0d0df6dd-1b39-4d27-af54-0bc6b64ad2e8CGD (Saldo Positivo) — “Vai reformar-se? Saiba como calcular…” (–0,5%/mês de antecipação; idade legal; exemplos) — cgd.pt
https://www.cgd.pt/Site/Saldo-Positivo/protecao/Pages/calcular-reforma.aspxSantander — “Como calcular a reforma” (bonificações 0,33%–1%/mês) — santander.pt
https://www.santander.pt/salto/como-calcular-reformaPolígrafo — “74% das pensões de velhice… abaixo do salário mínimo?” (fact-check) — poligrafo.sapo.pt
https://poligrafo.sapo.pt/fact-check/confirma-se-que-74-das-pensoes-de-velhice-da-seguranca-social-sao-inferiores-ao-salario-minimo/Comissão Europeia — Ageing Report 2024 (taxa de substituição prevista ~38,5% em 2050) — economy-finance.ec.europa.eu
Resumo: https://economy-finance.ec.europa.eu/publications/2024-ageing-report-economic-and-budgetary-projections-eu-member-states-2022-2070_en
PDF: https://economy-finance.ec.europa.eu/document/download/971dd209-41c2-425d-94f8-e3c3c3459af9_en?filename=ip279_en.pdfSS Direta — Novo Simulador de Pensões (simulação automática com salários registados) — sgeconomia.gov.pt
https://www.sgeconomia.gov.pt/noticias/seguranca-social-lanca-novo-simulador-de-pensoes.aspxCGD — Remuneração de Referência (explica o cálculo e os regimes) — cgd.pt
https://www.cgd.pt/Site/Saldo-Positivo/protecao/Pages/remuneracao-de-referencia.aspxCGD — Benefícios fiscais dos PPR (20% com limites por idade) — cgd.pt
https://www.cgd.pt/Site/Saldo-Positivo/protecao/Pages/beneficios-fiscais-ppr.aspxDECO PROteste — “Como aproveitar o benefício fiscal do PPR” (limites 400€/350€/300€) — deco.proteste.pt
https://www.deco.proteste.pt/investe/reforma/fundos-ppr/dossies/tudo-sobre-ppr/como-aproveitar-beneficio-fiscal-ppr