Ouro meu, ouro meu: é este o teu próximo investimento?
Em tempos de incerteza, será o ouro o ativo que te falta no teu portfólio de investimento? Vamos analisar a história do ouro, as suas características e perceber o conceito de "reserva de valor".
No final de 2023, o João viu o seu património encolher drasticamente.
Todo o seu património em ações desvalorizou da noite para o dia, o mercado imobiliário um pouco instável e tudo parecia incerto. Mas havia um ativo que resistia: o ouro.
Ao contrário do resto, o preço do ouro disparava. Mas será que o ouro é sempre um porto seguro?
Hoje, vamos explorar a história do ouro, se ele continua a ser valioso e porque é usado em estratégias de investimento. Além disso, veremos se deve fazer parte da tua estratégia financeira e como podes comprá-lo de forma inteligente.
Começamos o ano de 2025 com uma incerteza grande, com a segunda presidência de Donald Trump nos EUA a indicar que uma alteração drástica nas tarifas aduaneiras, afetando o comércio internacional tal como o conhecemos.
Alguns investidores já estão a pensar que vem aí tempestade e o que fizeram? Compraram ouro.
As notícias mais recentes1 mostraram que, pela primeira vez, a onça de ouro ultrapassou os 3.100 dólares, um valor nunca antes visto.
Mas porque é que o chamado “metal amarelo” valoriza quando existe mais medo e incerteza? É preciso olhar uns valentes séculos atrás para percebermos todo o contexto.
Uma breve história do ouro
O ouro tem sido utilizado há milhares de anos como símbolo de poder e riqueza.
Desde o Antigo Egito, onde os faraós eram sepultados com peças de ouro, até ao Império Romano, onde era usado como moeda de troca, este metal teve um papel central na economia global. E sempre foi visto como algo precioso - algo que qualquer sociedade gostaria de ter para assegurar crescimento e prosperidade.
No século XIX, o padrão-ouro foi estabelecido, o que significava que as moedas eram convertíveis em ouro, proporcionando estabilidade monetária. Ou seja, todas as moedas que existiam poderiam ser trocadas pelo ouro. Se “imprimias” mais uma moeda, tinha de haver o equivalente guardado em ouro.
Contudo, este sistema foi abandonado na década de 1970. Porquê? Porque a correspondência a um metal físico limitava a forma como se via o crescimento da economia. Assim, os governos de vários países passaram a utilizar moedas fiduciárias sem ligação direta ao ouro.
Mas isto não quer dizer que o ouro tenha perdido o seu valor - pelo contrário. Persiste um certo fascínio que é reconhecível por todos: se visitarmos a casa de alguém e ele tem uma banheira de ouro, sabemos logo o quão rico é.
O ouro continua a ser valioso?
A resposta curta: sim.
Mas porquê, perguntas tu?
Primeiro, o facto de ser algo finito. Não é possível fabricar mais ouro ou abrir uma fábrica e imprimir mais ouro. É preciso investir recursos para encontrar mais e tal custa tempo e dinheiro, portanto a escassez acrescenta valor.
Segundo, o ouro ainda é procurado para vários usos, como joalharia, reservas de bancos centrais e tecnologia - sim o teu smartphone tem chips que são feitos de ouro. Com grande procura e pouca oferta, não admira que seja caro!
Porém, o factor que realmente nos traz aqui é que o ouro é visto como um refúgio seguro.
Quando existem crises económicas ou pressente-se que vai haver alguns meses de instabilidade, muitos investidores compram ouro para se protegerem.
O que torna algo realmente interessante: o preço do ouro oscila, como qualquer outro produto, mas continuamos a achar que é algo bastante valioso.
A inflação pode desvalorizar os 10 euros que tens na carteira, porque consegues comprar menos com essa nota do que há uns anos. Mas o João tinha 2 onças de ouro há 20 anos e continua a tê-las - e se precisasse de as vender de certeza que faria uma compra por um bom preço.
E o que permite ter este bom preço? A escassez. É uma das principais características que permite ao ouro ser uma reserva de valor. Podes ter muitas ações, obrigações ou ativos imobiliários, mas nem todos podem ter ouro nas mesmas quantidades. Com esta dimensão de escassez, o valor do ouro é percepcionado por quem o tem e também para quem o procura - e quando há reconhecimento de todos, o valor torna-se ainda mais palpável e reconhecido.
Ouvi dizer que o ouro é reserva de valor - mas o que isso quer dizer?
Se andas a entrar no mundo de investimento, de certeza que já ouviste este conselho de “compra ouro como reserva de valor”.
Mas o que significa esta reserva de valor? O termo é aplicado a um ativo que mantém o seu poder de compra ao longo do tempo.
O ouro é usado como reserva de valor porque a moeda desvaloriza. Quando a inflação aumenta, a procura de ouro também aumenta, e serve como contrapeso ao aumento da inflação.
Nos últimos meses de 20222, a inflação em Portugal chegou a um pico de 10%, como resposta à Guerra da Ucrânia. Com esta desvalorização rápida, a procura pelo ouro aumentou também. Já se olharmos para o ano de 2024, a inflação estabilizou nos 3%, ainda um pouco longe dos 2% esperados para um mercado mais estáveis.
O que aconteceu ao ouro em 2022? A procura global aumentou3, claro! Atingiu o nível mais alto desde 2011, quando muitos bancos centrais andaram às compras.
Ou seja, o ouro é quase visto como um seguro para ultrapassar momentos económicos mais instáveis. Por exemplo, a China é dos países que mais compra ouro pois sente a desvalorização da sua moeda em momentos de crise.
Vale a pena investir em ouro?
Depende sempre do investidor, claro.
Olhando para o ouro como um ativo, ele tem características que outros ativos não têm:
Mantém o seu valor ao longo do tempo.
Tem baixa correlação com ações e obrigações, tornando-o uma excelente opção para equilibrar um portfólio.
Ao contrário de alguns investimentos de longo prazo, o ouro pode ser comprado e vendido facilmente em qualquer parte do mundo.
Em momentos de instabilidade, o ouro tende a valorizar, funcionando como um “seguro” dentro de um portfólio de investimentos.
Há quem diga que é bom ter ouro como forma de diversificação. Outros torcem o nariz e dizem que o ouro, ao contrário de alguns ativos, não “cresce”. Compras hoje, mas ele não gera juros nem dividendos. Fica estático.
Como vês, há vantagens e desvantagens em investir em ouro.
Ao comprares ouro, tens uma proteção contra crises (como as de inflação), estás a diversificar com mais um produto e tens uma ferramenta para preservar o teu poder de compra.
Como não há bela sem senão, podes ver que o ouro, afinal, não é para a tua estratégia de investimento.
Porque o preço varia bastante em períodos curtos de tempo, não gera fluxo de caixa e a parte que nos esquecemos: é se vais comprar ouro físico, tens de ter um sítio seguro para guardá-lo! (achas mesmo que alguém vai comprar barras de ouro e deixar debaixo do colchão? Nem pensar!). Porém, a tecnologia resolve este último problema.
Onde posso comprar ouro?
Se já ponderaste e estás interessado em investimento de ouro, então sê bem-vindo à era digital. Com as corretoras modernas, podes usufruir das vantagens de comprar ouro sem ter de comprar um cofre do tamanho de uma porta!
Se decidires que faz sentido incluir ouro na tua estratégia, tens várias formas de investir, para além do ouro físico:
ETFs de ouro: são parecidos aos ETFs que ouviste falar - ou seja, são fundos negociados em bolsa que replicam o preço do ouro sem que tenhas que armazená-lo fisicamente.
Ações de mineração: investimentos em empresas que exploram ouro e cujo desempenho pode estar ligado ao preço do metal.
Contratos futuros e opções: já numa vertente de especulação, é uma forma mais sofisticada, para investidores mais avançados que querem especular sobre o preço do ouro.
Estes termos podem parecer palavrões, por isso aconselhamos a leres bem sobre o tema, entender este produtos e que a tua escolha seja feita de forma informada e com base nos teus objetivos financeiros.
Conclusão
Então, o ouro faz sentido como investimento? Depende.
Se procuras uma reserva de valor em tempos de incerteza e um ativo para diversificação, pode ser uma boa opção. No entanto, não deve ser a peça central da tua estratégia, pois tem desvantagens como a falta de rendimento e custos associados.
Pensa no ouro como mais um ativo numa estratégia de investimento que se quer diversificada e preparada para enfrentar as diversas subidas e descidas de valor, sem que isso te cause pesadelos à noite.
📝 Trabalho de Casa:
Este artigo é uma introdução ao ouro, por isso sugerimos-te um trabalho de casa para saberes mais sobre o tema:
Para aumentar a tua curiosidade, explora a história do ouro e a sua importância nas sociedades antigas.
Procura na tua corretora atual se têm investimentos em ouro e outras formas de investimento alternativas, como o REITs, se queres diversificar.
Se optares por ouro físico, antes da compra, identifica locais seguros para armazenamento.
O que achas? Já investes em ouro ou consideras começar? Partilha a tua opinião nos comentários!
Disclaimer
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Portugal termina ano com inflação nos 3%. Média anual foi de 2,4% - Jornal de Negócios
Obrigado Rita.
Mas alguém sabe dizer onde comprar ouro físico (por um preço justo)?
E depois como vender?
Já agora, se vender com lucro, não paga imposto, certo?
Olá,
Sou dos que não gosta de investir em ouro, não propriamente porque "não cresce", (argumento menor nas reservas de valor), mas sim devido ao seu custo de oportunidade: cada Euro investido em ouro é um Euro que deixa de ser investido rastreando um índice a longo prazo, muito mais rentável.
Já tenho almofada para urgências, o tempo urge, e preciso da maior rentabilidade possível no pouco tempo que me resta.
Consequentemente, há cerca de 1 ano escrevi isto:
https://www.sergioaraujo.pt/p/investir-em-ouro-ou-rastrear-um-indice/
Outros não pensam como eu, mas a diversidade faz o mundo belo.