🥕Afinal, o que é o meu património líquido e quanto vale?
Hoje vamos olhar para o que temos e devemos. Perceber qual é a nossa realidade financeira, refletir sobre o que nos conduziu a ela e procurar informação que nos permita controlar o nosso futuro.
Se estás aqui, de certeza que já percebeste que antes de partir para temas mais complexos, achamos muito importante ter as bases bem cobertas.
Já vimos o que é a independência financeira e com que ângulos podemos olhar para ela, já falámos do orçamento pessoal ou familiar e já vimos alguns exemplos de alternativas para diversificar e aumentar os nossos rendimentos.
Hoje vamos olhar para o que já temos. Entender a fundo qual é o nosso património (ou riqueza) e refletir sobre o que nos trouxe até aqui. Para isso é fundamental introduzir 3 conceitos:
Ativo
Passivo
Património Líquido
Ativo, ou as tuas propriedades
Ativo? Isso não é coisa de empresas e contabilidades? Bom… também é, sim. Mas vale para a empresa como vale para ti. Um ativo é aquilo que possuis. A tua propriedade. Se é teu e tem valor, é um ativo. Pensa no carro, numa casa, contas bancárias, ações, cryptos, arte, algum objeto com valor, uma jóia, um relógio… até um negócio que tenhas! Tudo o que vires que é teu e que tem valor podes considerar um ativo. Quer dizer, que tenha valor que mexa a agulha … não é preciso ires contar copos e talheres… bom, se forem de prata, sim!
A ideia é que tudo o que possuis e que seja líquido (ora bolas… mais um conceito… líquido = dinheiro ou que se possa transformar em dinheiro de forma fácil e rápida, como o que tens na carteira, um depósito à ordem, um depósito a prazo que possa ser levantado, etc.) ou que tenha um valor de mercado claro, vale a pena considerares e contares como sendo parte dos teus ativos.
Peguemos num exemplo. Meet Blimunda:
A Blimunda tem uma vida financeira simples. Ainda não investe e só agora começou a preocupar-se em pôr um pouco de ordem nas contas. Comprou casa, tem um empréstimo para pagar e anda sempre com a pulga atrás da orelha, a pensar que no final do mês sobra pouco ou nada e que assim não vai a lado nenhum, o que a começa a incomodar. Vai daí decidiu dar o primeiro passo. Leu umas coisas e começou por listar os seus ativos:
Casa - 250.000€ (o valor de mercado actual que estima depois de comparar com algumas parecidas no Idealista)
Contas bancárias - 7.500€ (até já teve algum poupado, mas depois da entrada para a casa, mesmo com ajuda dos pais, foi o que sobrou e tem sido difícil recuperar)
Carro - 6.000€ (sim… é um chaço! Mas leva-a onde precisa e para estar na rua a levar toques a torto e a direito, é mais que suficiente)
Quadro - 900€ (a única coisa de valor que há em casa, oferecido pela tia Arminda, que não tem filhos, quando saiu de casa dos pais)
Total do ativo - 264.400€
📓 TPC #1: Percebeste a ideia, não percebeste? Para lá dos chavões em economês, é bastante simples! Então vá: pega no Excel, no Rows, no Moleskine, no Caderno Clássico Firmo ou no que for a tua ferramenta favorita e toca a puxar pela cabeça e fazer o mesmo que a Blimunda. O objetivo é perceber o melhor possível o que tens e quanto valeria se vendesses tudo.
💡 Hint: Se preferires, criámos esta calculadora muito simples para te ajudar neste trabalho.
Passivo, ou o que deves
Pois é … já vimos o que tens, agora é altura de olharmos para o outro lado da balança e vermos o que deves. A lógica é a mesma, mas, neste caso, vamos identificar e quantificar tudo aquilo que devemos, seja a quem for.
Exemplo: Tens casa própria? Se sim, deves tê-la incluído no ponto anterior e atribuído um valor (o de mercado actual). Mas se ainda a estás a pagar, o empréstimo associado e o valor ainda em dívida (idealmente acrescido da penalização que o banco te cobra se o quisesses amortizar na totalidade, que costuma ser 0,5% para empréstimos de taxa variável e 2% para empréstimos de taxa fixa) são considerados um passivo.
E o mesmo para outras dívidas que tenhas, como um empréstimo do carro, um empréstimo pessoal que pediste para fazer uma viagem, outro para comprar o iPhone (dica: não peças esses empréstimos todos … mas lá iremos noutro artigo), o saldo do cartão de crédito, o dinheiro que deves à tua mãe (a não ser que saibas que na verdade ela não quer que o devolvas), etc.
Enfim, acho que apanhaste a ideia. Tudo o que não é teu e que terás que pagar a alguém, é para incluir aqui. Não é sadismo. Não é masoquismo. É ganhar consciência. Se não sabes o que deves, não podes ter controlo sobre a tua vida financeira. E se não controlas a tua vida financeira, estás mais longe de ser livre.
Voltemos à Blimunda. No seu exercício de ganhar consciência da sua situação financeira, também a Blimunda foi olhar para o outro lado da balança. E o que viu?
Empréstimo da casa: 125.784€
Empréstimo do iPhone: 855,96€
Saldo do cartão de crédito: 1.873,48€
Total do passivo: 128.513,44€
📓 TPC #2: Simples, certo? Agora é a tua vez. Arranja um espaço no mesmo sítio em que listaste os teus ativos e faz o mesmo com os passivos. Coragem! Já temos o trabalho quase todo feito!
💡 Hint: Lembra-te que podes usar a nossa calculadora.
Património líquido, ou, feitas as contas, o que vale o que tens?
Chegados aqui, já estás a ver onde isto vai dar, certo? Exatamente: sabemos o que temos; sabemos o que devemos; só falta subtrair o último ao primeiro para perceber ao cêntimo qual é realmente o valor do que temos, ou seja, qual é o nosso património líquido ou riqueza.
Voltemos à Blimunda. Como vimos, ela apurou que tinha ativos no valor de 264.400€ e passivos no valor de 128.513,44€.
Fazendo as contas:
Ativos - Passivos = Património Líquido
264.400€ - 128.513,44€ = 135.886,56€
Not bad, uh?!…
Ah pois é… como vimos antes, a Blimunda sentia sempre que não tinha nada e estava preocupada com o presente e o futuro e com que decisões teria tomado para se sentir assim. Mas, bem vistas as coisas, a Blimunda não tem um problema de património. Pelo contrário. Está numa situação bastante interessante. Poderá sim ter um problema de liquidez. Ou seja, como vimos antes, pode estar com problemas para pagar tudo todos os meses e ainda conseguir poupar (não sabemos… não temos dados aqui e não é objetivo deste artigo abordar esses pontos), mas, do ponto de vista do património, parece estar no bom caminho.
No fundo, na situação atual, a Blimunda não está cheia de dinheiro no bolso, se calhar sente que não tem o suficiente para investir (a liquidez são os 7.500€ que tem na conta), mas tem alguma poupança e, se quisesse mudar de vida, mudar de país, ou o que fosse, conseguia liquidar ativos e passivos e ficar com mais de 130.000€ em dinheiro para cumprir os seus sonhos! Ou até podia fazer o mesmo sem vender a casa, arrendando-a enquanto estivesse a viver fora e gerando assim um rendimento que a ajudasse nesse eventual cenário de mudança radical da sua vida…
Mas isso já são outros temas e outras contas. Por agora o importante é apreendermos o conceito de património líquido e percebermos que o copo da Blimunda está meio cheio: não tem só “7.500€ no banco que não dão para nada”, mas sim um património líquido de mais de 130.000€ que lhe traz já algum conforto e liberdade para tomar decisões de vida que de outra forma poderia recear tomar.
📓 TPC #3: O mais difícil está feito. Volta ao teu planeamento e subtrai o total do teu passivo ao total do teu ativo e vê qual é o teu património líquido em Euros. É muito? É pouco? É o que é… o que é importante é que agora o conheces e conhecendo-o podes refletir nas tuas escolhas passadas, informar as tuas escolhas futuras e definir e manter um plano para o futuro, que te ajude a alcançar os teus objetivos.
💡 Hint: esse é um bom TPC auxiliar/complementar/opcional - pensar nos teus objetivos. De curto, de médio, ou de longo prazo. Volta ao mundo? Filhos? Comprar carro? Passar a reforma no deboche? Seja o que for, exige um plano - que não fiquem por realizar por culpa de decisões precipitadas e recursos comprometidos em coisas que não contribuam para a tua felicidade.
E está feito… chegámos ao fim. Que conclusões tiraste? Descobriste, como a Blimunda que tens afinal um património que te dá alguma opcionalidade para o futuro? Ou, pelo contrário, concluíste que tens um património líquido negativo? Seja a situação qual for, o importante é identificá-la, ter consciência do momento atual e definir o rumo. É muito normal, sobretudo em início de carreira, termos património negativo - afinal é uma altura em que investimos em nós próprios para ganhar skills e semear retornos futuros. Nem drama, nem facilitismo. Contexto. Dados. Rumo. Vamos a isso!?
Podes usar a calculadora para calcular o teu património líquido aqui!
Queres ler mais umas coisas sobre este e outros temas? Deixo-te com algumas recomendações:
🗞️ Ler um pouco: Uma sinfonia de literacia financeira, Francisco Quadrio Monteiro in blog Less Money More Wealth
📚 Ler mais: A Psicologia do Dinheiro, Morgan Housel
🔈 Ouvir: Bitalk #99: 1,5M Visitas mês, Finanças Pessoais, Créditos e Salários, com Dr. Finanças
🎬 Ver: Como ficar rico, Ramit Sethi in Netflix
Excelente artigo! já tenho vários instrumentos financeiros e literacia financeira, mas ainda não tinha feito este exercício!
“ penalização que o banco te cobra se o quisesses amortizar na totalidade, que costuma ser 0,5% para empréstimos de taxa variável e 2% para empréstimos de taxa fixa”
Numa fase em que muita gente está a amortizar, total ou parcialmente, os seus empréstimos à habitação, convém dizer que esta penalização está suspensa em 2023, certo?
Obrigado pelos artigos.