🥕 Sou freelancer, decidi que vou abrir empresa. E agora?
Descobre que tipo de empresa deves abrir, como fazê-lo passo a passo e o que muda no teu dia-a-dia. Uma ponte simples e prática para o próximo nível no teu percurso freelancer.
Olá amadores! 👋
Hoje vamos falar daquele momento-chave na vida de um freelancer: o dia em que percebes que ficar nos recibos verdes já não é suficiente.
E sim — este artigo é a continuação natural daquele que muitos de vocês já leram:
➡️ Sou freelancer a recibos verdes. Estou pronto para abrir empresa?
A Rita leu esse artigo. Fez as contas.
E percebeu que estava oficialmente pronta para dar o salto.
É precisamente o que vais aprender a fazer aqui: depois de concluíres que já compensa abrir empresa… qual é o próximo passo?
Vamos a isso! 💪
A história da Rita
A Rita (29), designer freelancer, começou como a maioria: recibos verdes, regime simplificado, vida leve e sem muita burocracia.
Mas no artigo anterior d’O Amador Financeiro, ela descobriu:
– que o regime simplificado é ótimo para começar, mas tem limites claros;
– que depois do primeiro ano de isenção, a Segurança Social começa a pesar;
– que quando o rendimento cresce e surgem mais despesas, o regime simplificado deixa de ser eficiente;
– e que, acima de certo volume de faturação, continuar a recibos verdes é “oferecer dinheiro ao Estado” sem necessidade.
Ela fez o diagnóstico: estava no ponto de viragem.
E então fez a pergunta que te trouxe aqui:
“Ok, percebi que abrir empresa compensa. E agora?”
Porque é que abrir empresa começa a fazer sentido
No artigo anterior, explicámos que abrir empresa só faz sentido quando tens motivos bons para isso — não apenas porque “parece mais profissional”.
Relembrando o essencial:
1. Eficiência fiscal
No regime simplificado és tributado sobre 75% do rendimento, mesmo que tenhas despesas reais maiores.
Numa empresa, és tributado sobre lucro real, com taxa fixa (IRC).
2. Segurança Social mais controlada
Como freelancer: 21,4% sobre 70% do rendimento.
Numa empresa: podes escolher entre salário (com SS) e dividendos (sem SS).
Mais flexível.
3. Responsabilidade limitada
Como TI ou ENI, o risco é todo teu.
Numa Lda, o risco fica dentro da empresa.
4. Crescimento profissional
Clientes maiores preferem empresas.
Se queres contratar, escalar ou profissionalizar, a empresa é a estrutura natural.
A Rita percebeu todos estes sinais. E avançou.
Então… que tipo de empresa devo abrir?
No artigo passado dissemos que há três caminhos. Mas só um faz sentido para a esmagadora maioria dos freelancers.
1) Continuar como Trabalhador Independente
Simples no início. Mas limitado quando cresces.
2) ENI — Empresário em Nome Individual
Tem burocracia de empresa, sem os benefícios de empresa.
Sem limitação de responsabilidade.
Continua com IRS progressivo.
Não recomendado na maioria dos casos.
3) Sociedade Unipessoal por Quotas (Lda)
A escolha natural da Rita.
E, provavelmente, a tua também.
Porque permite:
– proteger o teu património pessoal;
– deduzir despesas reais;
– pagar menos imposto quando tens custos;
– ter mais credibilidade junto de clientes;
– gerir melhor salário + dividendos;
– preparar a empresa para crescer.
Como abrir uma empresa: passo a passo
Este é o mapa que faltava no artigo anterior.
Aqui está o processo simples que a Rita seguiu.
Passo 1 — Escolher o nome da empresa
Podes usar um nome pré-aprovado (mais rápido), ou pedir certificado (mais lento).
A Rita escolheu um pré-aprovado para simplificar.
Passo 2 — Criar a empresa
Aqui é onde a empresa “nasce”.
Primeiro, escolhes como abrir a empresa. Presencial ou Online?
Segundo, escolher o pacto social que queres.
Começando por como abrir a empresa.
Tens duas formas de a criar 👇
Opção A — Empresa na Hora (presencial)
A forma mais rápida — entras e sais com a empresa criada.
📍 Onde fazer? Lista de balcões oficiais Empresa na Hora
Custo:
– 220€ com pacto pré-aprovado
– 360€ com pacto personalizado
Vantagens:
– Rápido (30–60 minutos)
– Tens ajuda no balcão
– Sais com NIPC e código de acesso no momento
Opção B — Empresa Online (via ePortugal)
100% digital — perfeito se já tens tudo preparado.
🌐 Onde fazer? Portal oficial de constituição online
Requisitos:
– Cartão de Cidadão com PIN activo, ou;
– Chave Móvel Digital com assinatura digital.
Custo:
– 220€ com pacto pré-aprovado
– 360€ com pacto personalizado
Agora, a parte mais importante: escolher o pacto social
O pacto social é o documento que define as regras da tua empresa.
Tens duas opções 👇
Opção A. Pacto Social Pré-Aprovado — para 99% dos freelancers
É um modelo já feito pelo Estado.
Só tens de preencher os teus dados.
Ideal se és freelancer sozinho.
Vantagens:
– Mais barato (220€)
– Mais rápido
– Não precisas de advogado
– Perfeito para prestadores de serviços
Limitações:
– Pouca personalização (normalmente não é necessária)
Opção B. Pacto Social Personalizado — para casos complexos
Escrito por ti ou por um advogado.
Permite regras mais específicas.
Ideal se tens vários sócios ou acordos complexos.
Vantagens:
– Flexível
– Permite cláusulas especiais
– Adequado para startups ou sociedades plurais
Desvantagens:
– Mais caro (360€)
– Processo mais longo
– Desnecessário para freelancers a solo
Resumo rápido da tua decisão — OAF-style 🕶️
És freelancer sozinho?
➡️ Empresa na Hora ou Online + pacto pré-aprovado.Tens sócios, investidores ou acordos complexos?
➡️ Pacto personalizado.
Passo 3 — Início de atividade nas Finanças
Depois de criares a empresa, tens 15 dias para abrir atividade nas Finanças.
Este passo parece simples, mas cada campo tem impacto real no teu dia-a-dia.
Vamos explicar cada variável como se estivéssemos contigo no Portal das Finanças 👇
1. CAE — escolher o código da tua atividade (e evitar custos desnecessários)
O CAE (Código de Atividade Económica) define a atividade principal da tua empresa.
E aqui tens de ter atenção a um detalhe que muita gente desconhece:
✔️ Alterar o CAE nas Finanças é gratuito.
✔️ Alterar o CAE na Certidão Permanente da empresa tem custos.
Isto significa que:
Se escolheres mal o CAE na constituição da empresa, podes ter de pagar mais tarde para mudar na Conservatória.
Por isso, vale a pena escolher um CAE que te represente agora mas que também seja flexível para o que podes vir a fazer.
O que escolher?
Escolhe um CAE amplo e que cubra 80% do que fazes hoje, mas também eventuais serviços próximos.
Exemplos comuns para freelancers:
62090 — Outras atividades relacionadas com TIC
74100 — Design gráfico
73110 — Publicidade
70220 — Consultoria de gestão
74300 — Tradução
90030 — Atividades artísticas / criativas
🎯 Dica importante: Muitos freelancers escolhem um CAE na constituição… e só descobrem mais tarde que querem fazer outro tipo de atividade.
Se isso exigir mudar o CAE “oficial” da Certidão Permanente, há custos.
👉 Ao criar a empresa:
Escolhe logo um CAE abrangente e que te dê margem para crescer sem pagar alterações no futuro.
2. Regime de IVA — nas empresas não há isenção
Ao contrário dos freelancers no regime simplificado, uma empresa não pode ter isenção de IVA por baixa faturação.
Ou seja:
➡️ Vais ficar automaticamente no Regime Normal de IVA
(trimestral na grande maioria dos casos)
Na prática:
Vais cobrar IVA nas tuas faturas
Vais entregar IVA trimestral
Vais poder deduzir IVA das tuas despesas (grande vantagem)
3. Contabilista Certificado — obrigatório desde o primeiro dia
Abrir empresa obriga a ter um contabilista certificado.
Ele vai ser a tua “bússola fiscal”.
Pergunta sempre:
Qual o preço mensal? (normal: 120€–250€)
O que está incluído? (IVA, IRS, IES, salários?)
Em quantas horas respondem?
Têm experiência com freelancers/prestadores de serviços?
🎯 Dica: Não escolhas pelo preço — escolhe pela clareza e acompanhamento.
4. Sede Fiscal — a morada da tua empresa
3 Opções:
✔️ Morada pessoal (mais comum)
✔️ Escritório/cowork
✔️ Morada virtual (15–30€/mês)
Podes mudar mais tarde. 😌
5. Previsão de rendimentos — não te prendas a este número
É apenas uma estimativa para a AT prever pagamentos futuros.
👉 Coloca um valor realista. Podes mudar no futuro.
Resumindo…
CAE: escolhe um que cubra bem o que fazes AGORA e os que podes vir a fazer mais tarde. Alterar na Conservatória tem custos.
IVA: regime normal (obrigatório).
Contabilista: o teu braço direito.
Sede: podes usar a tua morada pessoal.
Previsão: não stresses — só uma estimativa.
Passo 4 — Conta bancária da empresa
Conta pessoal ≠ conta da empresa.
Misturar ambas é pedir problemas fiscais.
Passo 5 — Segurança Social do sócio-gerente
Podes escolher receber:
– salário (com SS e direitos)
– dividendos (sem SS e sem direitos)
– combinação
Esta flexibilidade é uma das grandes vantagens de ter empresa.
Passo 6 — Obrigações mensais e anuais
O contabilista trata de:
– IVA
– declarações mensais
– remunerações
– retenções
– IRC anual
– IES
– pagamentos por conta (não nos primeiros anos)
Tu concentras-te no teu negócio.
Quanto vou pagar afinal?
No artigo anterior já tínhamos deixado esta orientação:
– Até 50k: TI continua a ser eficiente
– 50k–100k: depende das despesas reais
– Acima de 100k: empresa começa a ganhar (por razões fiscais ou estratégicas)
A Rita estava perto dos 90k, com muitas despesas e projetos de crescimento.
Achou que o momento era o ideal.
Conclusão
No artigo anterior ajudámos-te a perceber SE estavas pronto.
Este artigo mostra-te COMO dar o salto.
Abrir empresa não é só uma decisão fiscal — é estratégica.
É reconhecer que o teu trabalho já não é “só freelancing”.
É um negócio.
E isso muda tudo.
Tal como a Rita, quando dás este passo, estás a dizer:
“Agora estou a jogar a sério.
🧡 Trabalho de Casa
1) Confirma que estás pronto para abrir empresa
Relembra os 4 sinais do artigo anterior (“Sou freelancer a recibos verdes. Estou pronto para abrir empresa?”) e marca ✔️ nos que te aplicam:
– rendimento crescente
– despesas reais relevantes
– Segurança Social a pesar
– necessidade de profissionalização
Se só falta um ✔️, talvez ainda não seja o momento.
Se tens vários ✔️, estás pronto(a).
2) Define o CAE certo para evitar custos futuros
Vai ao site dos CAEs (pesquisa “CAE Portugal”) e identifica 3 códigos que se aproximam do que fazes.
Escolhe o mais amplo e flexível, para não teres de pagar para alterar mais tarde.
Escreve-o num post-it — vais usá-lo na abertura de atividade.
3) Escolhe o contabilista certificado
Fala com 2 ou 3 contabilistas e compara:
– preço
– acompanhamento
– experiência com freelancers
– capacidade de te ajudar a decidir salário/dividendos
– clareza na explicação
Escolhe um e pede-lhe os dados para colocares na declaração de início de atividade.
4) Decide a sede da tua empresa
Escolhe entre:
– a tua morada pessoal
– cowork/escritório
– morada virtual
A melhor é a que faz sentido agora — depois podes mudar.
5) Prepara os documentos para criar a empresa
Se vais pela Empresa na Hora, leva:
– Cartão de Cidadão
– Nome da empresa (pré-aprovado ou certificado)
– Capital social definido (pode ser 1€, mas define o que faz sentido para ti)
Se vais pela Empresa Online, ativa a Chave Móvel Digital com assinatura digital (5 minutos).
6) Marca o momento de criar a empresa (hoje mesmo!)
Escolhe uma opção:
📍 Empresa na Hora:
https://eportugal.gov.pt/servicos/constituir-uma-empresa-na-hora
🌐 Empresa Online:
https://eportugal.gov.pt/servicos/constitui-uma-empresa-online
Define a data em que queres oficializar o teu salto.
Coloca no teu calendário.
7) Cria o teu “Kit Empresa” digital
Cria no teu computador/drive uma pasta chamada:
EMPRESA — ANO 1
Dentro dela, cria subpastas:
– Faturas emitidas
– Despesas
– IVA
– Salários & dividendos
– Documentos oficiais
– Banco
– Correspondência AT/SS
O teu contabilista vai agradecer — e tu também.
8) Faz o plano do teu primeiro ano como empresa
Responde a estas perguntas simples (por escrito):
Quero receber só salário, só dividendos ou mix?
Quanto posso reservar mensalmente para impostos (20–25%)?
Que investimentos quero fazer no negócio este ano?
Como quero crescer nos próximos 12 meses?
Não precisas de ter tudo perfeito — basta ter direção.
9) Celebrar 🥳
Estás a dar um passo gigante.
Sai para tomar um café, conta a alguém o que estás a fazer e marca este momento.
É importante celebrar os upgrades da nossa vida financeira.



