🥕 Ser rico ou só ter dinheiro?
A definição de riqueza enraizada na sociedade está errada. Confundimo-la com dinheiro, e esquecemos tudo o resto. Este artigo propõe uma nova definição, inspirada no livro The Five Types of Wealth.
👋 Olá a todos!
A associação mais comum à palavra “riqueza” é o dinheiro. Hoje, convidamos-te a redefinir este conceito.
Fiz uma pesquisa rápida no Google por “riqueza significado”:
O Google tem razão.
Crescemos convencidos de que dinheiro, sucesso e riqueza são a mesma coisa. Estão relacionados, mas não são sinónimos.
Esta definição é demasiado limitada e ignora outras partes da nossa vida.
Este artigo é uma reflexão baseada no livro The Five Types of Wealth1, que defende que a verdadeira riqueza assenta em cinco pilares que iremos explorar.
Afinal, o que é riqueza?
Não se trata de apenas acumular dinheiro na conta bancária, mas de um sistema onde cada parte fortalece a outra:
💰 Riqueza Financeira
"Dinheiro não é insignificante. Simplesmente não pode ser a única coisa.”
Dizer que o dinheiro não importa é, no mínimo, sinal de ignorância.
A falta de dinheiro traz insegurança e limita a nossa vida.
Por outro lado, a abundância também pode ser perigosa, levando à acumulação cega e eterna insatisfação.
Há uma parábola que ilustra bem esta ideia2.
A Parábola do Pescador Mexicano
Um banqueiro americano estava numa vila costeira no México quando viu chegar um barco com atuns frescos, e perguntou ao pescador quanto tempo tinha levado a pescá-los.
— Só um bocadinho — respondeu o pescador.
— E por que não pesca mais?
— Porque já é suficiente para a minha família.
— E o que faz com o resto do seu tempo?
— Durmo até mais tarde, brinco com os meus filhos. À noite vou até à vila beber vinho, e tocar guitarra com os amigos.
O americano sorriu:
— Tenho um MBA em Harvard e posso ajudá-lo. Se começar a pescar mais, pode comprar mais barcos, abrir uma empresa, e eventualmente tornar-se milionário.
— E depois?
— Depois, pode reformar-se, dormir até tarde, pescar um pouco, brincar com os filhos, beber vinho e tocar guitarra com os amigos.
O ponto aqui não é saber quem tem razão.
É perceber que cada um define o seu "basta", e perseguir a definição feita por outros é cair numa armadilha.
Hoje, vivemos expostos à comparação constante, especialmente nas redes sociais.
Não há forma mais rápida de nos diminuirmos do que medir a nossa vida pelo destaque seletivo dos outros.
Tipicamente desvalorizamos o que antes tanto queríamos: agora a casa parece pequena, o carro envelhece, o telemóvel já não é a última versão…
A ambição é saudável, mas precisa de ser medida.
No fundo, a riqueza financeira é o equilíbrio entre segurança financeira, e saber identificar o teu ponto de conforto. Significa ter disciplina para não transformar cada aumento de rendimento numa nova escalada de consumo.
🕒 Riqueza do Tempo
Já ouviste falar em ser um bilionário de tempo?
Uma pessoa com 30 anos, em princípio, terá pela frente pelo menos mais de 1 bilião de segundos (≈ 31 anos) pela frente.
Mas riqueza do tempo não é apenas o tempo disponível, é também a capacidade de saber geri-lo.
O tempo é o ativo mais precioso porque não se recupera, ainda assim, tratamo-lo como infinito:
Passamos dias inteiros em piloto automático
Dizemos “sim” a compromissos sem interesse
Vivemos a vida dos outros através das redes sociais
Devemos encarar o tempo da mesma forma que o dinheiro, onde também é possível ficar falido.
Numa palestra que ouvi3, o autor do livro pergunta à audiência:
Trocarias hoje de vida com o Warren Buffett? Ele tem mais um património avaliado em mais de 130 mil milhões de euros, mas também tem 95 anos.
Por isso, faço-te a mesma pergunta:
👥 Riqueza Social
"O oposto de riqueza não é a pobreza. É o isolamento."
As relações têm um impacto direto na saúde, felicidade, e até nos resultados financeiros.
São um ativo invisível que requer tempo e dedicação.
Um estudo de Harvard4 acompanhou cerca de 700 pessoas durante 75 anos para perceber o que influenciava a longevidade.
Concluíram que o indicador mais importante não era o colesterol nem o salário, mas sim, a qualidade das relações aos 50 anos.
O livro defende que, na generalidade, podemos categorizar as relações em amorosas, de apoio, ou tóxicas. Mas há uma zona cinzenta: as ambivalentes.
As relações tóxicas tornam-se identificáveis com o tempo, e apesar de nem sempre ser simples manter a distância, acabamos por criar uma espécie de escudo de proteção.
Já as ambivalentes são mais subtis e enganosas, tanto apoiam como desgastam, sendo aquelas que nos deixam mais vulneráveis emocionalmente.
Por outro lado, ter um grande círculo social não é sinónimo de riqueza social.
Relações superficiais não criam riqueza social, porque este conceito baseia-se em relações profundas.
Tipicamente evitamos conversas profundas, sobre sentimentos, decisões ou conflitos. Considera-se assuntos “pesados” para uma sexta à noite ou fim de semana, mas adiar só traz um alívio falso, porque no dia seguinte, os problemas continuam lá.
É importante rodearmo-nos de pessoas com quem possamos falar abertamente, sobre o que nos preocupa, o que queremos alcançar e as incertezas que levamos connosco. Precisamos de normalizar essas conversas.
🧠 Riqueza Mental
Chama-lhe propósito, missão, ou simplesmente algo que te faz sair da cama.
Trata-se do espaço para o crescimento pessoal, onde dás atenção às experiências que queres viver, ao que desejas aprender, e ao tipo de pessoa em que te queres tornar.
Pode acontecer através de coisas tão simples como viajar, experimentar um novo hobby, aprofundar conhecimento numa área que gostes, formar uma familia, ou reservar momentos para reflexão.
A rotina diária e as escolhas que fazes na carreira impactam diretamente o humor, e a predisposição para investir nas outras áreas da vida.
Podemos ignorar sinais de insatisfação ou de falta de propósito durante algum tempo, mas a parte mais traiçoeira não é quando se sente que está no caminho errado.
Eventualmente, o incomodo torna-se demasiado evidente, as pessoas próximas apercebem-se e alertam-te, e surgirá a necessidade de mudança.
O que mais te desgasta, muitas vezes sem dares por isso, é seguir um caminho que parece certo por fora, mas que não é verdadeiramente teu. É aquele emprego com um ótimo salário, o cargo que impressiona no LinkedIn, mas que, todos os dias, corrói-te por dentro.
Ter riqueza mental, em certa parte, é ter coragem para fazer as tuas próprias escolhas, mesmo que não façam sentido para os outros.
Anteriormente, mencionei que a riqueza financeira dá-te segurança: seja para dormires mais tranquilo, seja para teres o espaço mental de tomar decisões menos vantajosas em termos salariais, mas que são as que te deixam bem contigo próprio.
Se sentes que andas em piloto automático, provavelmente está na altura de repensares as decisões que tomaste sobre a tua rotina, carreira, e estilo de vida.
💪 Riqueza Física
A velha frase "o que importa é ter saúde" encaixa-se aqui.
O livro não complica, e resume a riqueza física em três coisas:
Mover o corpo 30 minutos por dia
Comer mais alimentos naturais e menos processados em 80% das refeições
Dormir entre 7 a 8 horas
Riqueza física é a base que permite aproveitar todas as outras formas de riqueza, combatendo o desgaste natural do corpo ao longo dos anos.
Pode parecer simples, mas cumprir estes três pontos de forma consistente já te coloca num grupo pequeno, e privilegiado, de pessoas que realmente fazem o que a maioria só diz que devia fazer.
Conclusão
Como gerir estas 5 áreas?
Construir a nossa riqueza assente nas áreas que explorámos, não significa ter todas em equilíbrio ao mesmo tempo. Isso nem é possível.
Devemos evitar a armadilha do perfeccionismo:
“Se não fizer 1 hora de ginásio, não vale a pena ir.”
“Se não comer saudável sempre, mais vale desistir.”
E perceber que qualquer ação acima de zero já é progresso.
Há uma ideia no livro Atomic Habits5: cada pequena ação é um voto a favor da identidade que queremos construir.
Não interessa se dedicas 5 minutos ou 1 hora, o que conta é criar momentum.
No final da semana ou do mês, o que importa é que a maioria dos votos tenha sido a favor da pessoa que queres ser.
Viver o presente não anula a ambição
Existe uma tensão natural entre estar presente e querer mais.
Presença é estar atento ao que acontece agora: partilhar tempo com quem nos importa, e desfrutar das experiências escolhidas.
Ambição é a vontade de crescer, alcançar objetivos e criar algo melhor.
Conciliar estas duas forças não é simples.
O autor do livro critica a ideia de work-life balance, porque sugere que trabalho e vida estão em lados opostos e em tensão.
Na prática, o trabalho faz parte da vida, não é um inimigo. É uma atividade que pode trazer segurança financeira e propósito.
O ponto não é separar trabalho e vida pessoal a todo o custo, mas aprender a integrá-los.
Quando encontramos sentido no que fazemos, o trabalho deixa de ser apenas uma obrigação, e pаssa a ser uma fonte de satisfação que alimenta аs restantes áreas.
Por isso, faz mais sentido pensar em work-life harmony, onde presença e ambição coexistem de forma alinhada.
É saber quando priorizar resultados, e quando desligar. É termos definida de forma clara o que é importante fora do trabalho e reservar espaço para isso, mesmo em períodos exigentes.
Este equilíbrio não acontece todos os dias, mas ao longo das fases da vida.
Haverá períodos em que o trabalho vai ocupar mais espaço, e outros em que a saúde, a família ou o lazer ganham prioridade. Isso é normal.
O essencial é não deixar nenhuma área esquecida por demasiado tempo.
No fim, viver bem é ajustar o foco conforme a etapa, e dar espaço à ambição sem sabotar nenhuma das áreas no presente.
E lembramo-nos que coisas que antes eram só objetivos, hoje já fazem parte da tua vida, e estarmos agradecido por isso.
Trabalho de casa
Um artigo como este só tem valor se desencadear uma ação prática, por isso, para reflexão, responde a estas perguntas:
Qual das 5 formas de riqueza tens mais negligenciado?
Qual destas áreas gostarias de ver fortalecida nos próximos meses?
E o que é que tens feito, ou deixado de fazer, nesse sentido?
Que hábito, por mais pequeno que seja, poderias começar amanhã para investir nessa área?
Exemplos de hábitos simples:
Fazer uma caminhada de 15 minutos por dia (riqueza física)
Convidar alguém para uma conversa (riqueza social)
Bloquear 30 minutos para um projeto pessoal (riqueza mental)
Rever despesas e definir um teto semanal (riqueza financeira)
Dizer “não” a um compromisso que não te diz nada (riqueza do tempo)
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